Diário de uma Pandemia: “Faz 01 ano que eu não abraço meus pais”

Sexta-feira, 05 de Março de 2021. Ano novo pra quem é residente, vida nada nova pra quem mora no Brasil em meio a maior crise sanitária deste século. Saio do trabalho, passo na casa dos pais de amigas pra deixar uma encomenda. Eles já tiveram Covid, mas tenho medo de reinfectá-los. Tiro os sapatos, permaneço de máscara, não há apertos de mãos. O assunto não poderia ser outro…e essa nova onda?

Uma das filhas, minha amiga há mais de 15 anos (por favor, não façam contas) também médica, também atuando na linha de frente, ainda não foi vacinada. Não sei o que dizer pra consolar os pais. Saio de lá e sinto um aperto no peito. Volto pra casa chorando, soluços ao volante. O pôr do sol não está tão lindo quanto ontem. Deus, me perdoa…meus amigos e familiares estão vivos, eu estou bem. Mas, estou cansada. Cansei de notificar famílias inteiras e fazer uma oração interna que só meu Pai e eu entendemos ( por favor, que todos fiquem bem). Cansei de me despedir de pacientes na porta da ambulância sem saber se os verei novamente. Cansei de quem deveria tomar decisões e salvar milhares de vidas e não toma.

A gasolina batendo recorde de preço…a cesta básica está inacessível. Meu Deus, como sobrevivem os que não têm emprego? Ou os que têm filhos? Como aguardar vacina quando o prato está vazio?

Chego em casa, ligo a TV. Não consigo assistir metade do jornal. O vinho desce mais seco que de costume. Faz um ano que eu não abraço meus pais.

Petrolina,05 de Março de 2021

Polianna Guedes Granja

Filha de Paulo e Nataíde, irmã de Paula, Juliana e Matheus.

Cristã. R2 de MFC na Univasf. Exausta.

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